sábado, junho 15, 2013

TRANSPORTE PÚBLICO MUNICIPAL – NEM PÚBLICO, NEM PRIVADO...



Custa-me acreditar que parte dos manifestantes do “passe livre”, uma nova denominação para vândalos, estavam dispostos a fazer protestos pacíficos diante do arsenal de ferramentas, bombas do tipo “coquetel molotov”, estilingues, martelos, etc... precisa dizer mais algo sobre a natureza destes protestos?

Bem, na verdade, a razão dos “protestos” – aspas que indicam possíveis motivações outras, têm certo fundamento quanto aos preços pagos e a devolução dos serviços prestados. Reitero, contudo, que tratar mal uma ideia boa é uma péssima ideia. Mas vamos ao que interessa.

O sistema de transporte público de massas vigente na maioria, se não em todas as cidades brasileiras, passa por concessões de linhas para empresas privadas. O jogo de forças fica estabelecido, contudo, entre três partes – o poder público, a empresa e os sindicatos.  Se tiver motivação político-partidária então, melhor nem comentar. As empresas querem receber mais por km rodado, os empregados mais pelo trabalho, junto com mais vantagens, com os sindicatos lucrando politicamente para ampliar sua base de associados e o poder público, sempre com um partido ou coligações no poder, com interesses diversos – desde agradar os donos das empresas que costumam contribuir generosamente nas campanhas, até o povo, que reclama do preço da passagem e das condições dos serviços. Enfim, um jogo onde quem costuma perder é a população.

Quero frisar que sou, por definição ideológica, privatista, porém tenho o entendimento de que talvez, nem tudo possa ser realmente tocado por empresas. O atual  modelo de concessões deu margem a muitas discussões, levando governos com inclinação socialista a estatizar o transporte público, resultando, via de regra, na piora dos serviços – o “dinheiro da viúva” nunca é  tratado com respeito e quase sempre com outro tipo de voracidade. A maioria, contudo, adotou a privatização parcial por meio de concessões, com controle municipal do preço da passagem, e dos demais componentes que integram a chamada tarifa técnica, o que parece demonstrar também, não ser o melhor caminho. E a privatização plena talvez fosse o melhor dos mundos. Será?

Uma das premissas dos empreendedores e empresários é o lucro. E quanto mais, melhor. É da natureza humana. Nada contra, por favor! Em um mercado aberto, competitivo, o controle dos preços é feito pelo consumidor, que determina, pelo poder de escolha, a sua opção. Mas quando não há opção, o que fazer? Mesmo privatizada, a condução dos negócios terá que ter um controle, fiscalização do Estado, em nome do interesse público. E a encrenca continuaria, pois onde existe a possibilidade de negociação...

Quero propor então, outro caminho. Nem público, ou seja, nem diretamente ligado ao poder público, nem privado, o sistema de transporte público de massa poderia ser simplesmente comunitário.  Em poucas linhas, um modelo de entidade jurídica proprietária do sistema, incluindo veículos e toda a parte material e humana, com um conselho gestor composto de profissionais contratados, e com um conselho comunitário composto por pessoas eleitas pelo povo, sem vinculação partidária.  Esta entidade que poderia ser chamada de STC – Sistema de Transporte Comunitário (obviamente uma sugestão), não teria finalidade de lucro a ser distribuído, mas sim, uma margem operacional com finalidade de criar um fundo de recomposição e modernização de frota. Um entidade do Estado, mas não de governo. Aliás, nenhuma interferência do governo.

Os funcionários, dentro do atual modelo legislativo e estruturalmente engessador brasileiro poderiam então, ser contratados sem estabilidade funcional, de maneira a manter a competitividade pela qualidade  entre os funcionários. O Presidente desta pode ser, como dito, eleito diretamente pelo povo, sem vinculação partidária.

Resultados possíveis: redução dos custos e implantação imediata da transparência do sistema, em todos os sentidos, inclusive financeiro; eliminação dos impasses tarifários no jogo de forças entre empresas e prefeitura; eliminação da partidarização do transporte público e/ou uso do sistema como massa de manobra eleitoral; eliminação dos problemas relacionados a idade de equipamentos em uso, bem como, da não imposição de soluções que impliquem em prejuízos outros, uma vez que, o conselho comunitário, que representa os interesses da população, acompanha tudo, ponto a ponto. Agilidade, otimização, racionalização sem perda do foco – atender da melhor maneira o público e tarifa justa, são os benefícios adicionais que se espera de um sistema livre de forças estranhas ao interesse maior do usuário.

É verdade que em um modelo de autonomia plena das cidades em estados já verdadeiramente federados isso se torna mais fácil em implantar, mas mesmo dentro do atual modelo isso é possível. É certo que transformação do atual modelo no STC poderá sofrer inúmeras interferências, contudo, pode ser um importante vetor de soluções para algo que se demonstra cada vez mais caótico no Brasil, carente de trens, metrôs, VLTs e outros meios e com crasso planejamento de mobilidade e alocação de recursos humanos. E, sem dúvida, uma contribuição objetiva em meio ao quebra-quebra e gritaria que de solução nada apresentou, apenas uma exigência sem fundamento – passe livre - porque não se pode jogar a conta de um sobre outros. Não é justo, nem ético, nem moral e nem pedagógico na construção de uma Sociedade que sabe que para vencer, precisa trabalhar, fazer por merecer. Quem sabe, com o STC, o preço da tarifa possa ser reduzido para uns 50% do atual valor. Porque não? Os federalistas que chegarem ao Poder Municipal em 2016, serão firmes para propor isso aos cidadãos.

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