sexta-feira, outubro 14, 2016

CLÁUSULA DE BARREIRA: 2% É POUCO!

A Argentina tem mais de 700 partidos e 19 no Congresso. Muitos pensam que os EUA têm apenas 2 partidos, mas  têm entre 120 e 150. A Alemanha tem 72, mas apenas 5 partidos no Parlamento. O Chile tem 42 partidos, para uma população de 18 milhões, com 9 partidos no Congresso. Vários outros países são assim, qual é a mágica? Cláusula de desempenho eleitoral, que no Brasil, acostumado a olhar para trás pensa mais na burocracia impeditiva do que na meritocracia, chama de “cláusula de barreira”. Este termo foi criado pelos políticos que espalharam, criminosamente desde 20 anos passados, informação equivocada de que no Brasil existem muitos partidos. E despertou na população, uma ojeriza a novos partidos políticos – mais um partido?  

Na Alemanha, o desempenho exigido é de 5%. Nas eleições de 2013 o FDP (é a sigla deles, ok?) ficou de fora  do Parlamento pela primeira vez, pois conseguiu 4,8% dos votos nacionais. O Brasil poderia ter avançado nesse sentido se, em 2006 o STF não tivesse derrubado a cláusula de barreira de 5% instituída pela Lei dos Partidos de 1995, a pedido de vários partidos pequenos,  alegando-se o direito de minorias terem cadeira no Congresso. Por conta desse “mimimi” chegamos a 28 partidos no Congresso, um descalabro.  A aplicação de uma cláusula de desempenho vai ajudar a alocar representatividade de fato. Mas 2% é pouco. Significa algo em torno de 2 milhões de votos obtidos nacionalmente. O correto, para que o Congresso funcione melhor, com partes significativas da sociedade seria sem sombra de dúvida desempenho de 10% - algo em torno de 12 milhões de votos. Isso resultaria 3 ou 4 partidos no Congresso, algo que se poderia dizer de civilizado. 2% é pouco, mas melhor do que nada.  

Se uma cultura é baseada em informação equivocada ou com omissões propositais, logicamente toda a construção institucional estará  alinhada com a concentração de poder, bem ao interesse dos políticos que pretendem manter reserva de mercado, preservando os oligarcas de sempre ou colocando o País em risco pela ascensão de populistas. A concentração de poder político é irmã da concentração de recursos...

A implantação da cláusula de desempenho eleitoral, recém aprovada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado propõe também o fim das coligações.  Será o fim dos partidos pequenos? Obviamente que não! Partidos poderão eleger prefeitos, vereadores, deputados estaduais e governadores. De acordo com seu desempenho, poderão ter influência local estadual, regional. Se for do interesse de parte da sociedade brasileira, poderá ter representação nacional. Nós, os federalistas, por exemplo, temos uma ideia-força que motivou a criação do Partido Federalista, para propor o Federalismo Pleno -  estados com autonomia para legislar e ter seus próprios tributos, judiciário e administração, inspirados nos países mais desenvolvidos – e por isso, não só não tememos tais reformas, como as apoiamos – já estão em nosso Programa há anos. Na verdade, o que mais receamos é a falta de transparência nas eleições, com urnas eletrônicas não auditáveis e apurações manipuláveis.  Michel Temer falou sobre a “democracia da eficiência”, mas, me parece mesmo que o Brasil precisa de uma “democracia da confiança”...