terça-feira, fevereiro 17, 2015

LEGISLATIVO FEDERAL – RECONQUISTANDO O PODER?

A eleição de Eduardo Cunha à presidência da Câmara e a reeleição de Renan Calheiros ao Senado, ambos do PMDB, deixam claras algumas coisas. No momento, ambos presidem as duas Casas, e tem também a Vice-presidência da República. Um cerco estratégico ao PT, agora com novas prerrogativas de negociação do Legislativo com o Executivo: engavetar ou não, pedidos de impeachment que chegam à Câmara.

A primeira providência é retirar o poder de barganha do Executivo na manipulação das verbas relacionadas com os deputados federais: o Orçamento Impositivo. É sabido que a liberação de recursos aprovados no Orçamento Geral da União (OGU) pode simplesmente ser “contingenciada”, um eufemismo técnico que criou uma prática comum em governos altamente centralizadores: a barganhocracia. Desta forma, se aprovada a PEC a que se refere tal mudança, o que estiver aprovado no OGU terá que ser integralmente distribuído na cota de verbas de cada deputado. Ou seja, acaba a farra do Executivo em conseguir votos para aprovar seus projetos de lei e MPs, ficando apenas com cargos para barganhar.

A votação da PEC do Orçamento Impositivo desde já, portanto, deixa claro uma nova postura do PMDB, como resposta às submissões sofridas pelo Legislativo ao Executivo e seu projeto de poder. Com independência, elimina-se, pelo menos neste aspecto, esse tipo de barganha  imposta pelo Executivo – mexer no dimdim e, por consequência no potencial eleitoral, a parte mais sensível de cada parlamentar. Essa prática “non sense” só é possível porque os recursos extorquidos das cidades e estados por meio de um sistema tributário perverso se concentram em 75% de tudo que se arrecada nas mãos do Poder Executivo Federal. A PEC do Orçamento Impositivo é interessante dentro do atual modelo de País, mas expõe a verdadeira face dessa anomalia  - uma federação esquizofrênica na qual se tornou o Brasil. O caminho para a sua aprovação talvez seja longo do ponto de vista regimental, tendo que passar pelas duas Casas,  e ainda terá o poder de veto da Presidente. Se vetar, poderá abrir a caixa de pandora do impeachment. Estaríamos vendo o poder da barganha trocar de polo? Uma espécie de impeachment branco?


A outra medida é evitar a divisão da oposição que se fortalece, atacando a tentativa do “industrial de partidos”, o agora Min. Kassab, de recriar o PL e fundi-lo com o PSD. A janela dos 30 dias para transferência de um partido para um novo, poderia provocar uma revoada de insatisfeitos recompondo as forças no Legislativo. O DEM já ingressou com projeto que altera a Lei dos Partidos, criando a quarentena de cinco anos de existência para liberar fusão entre partidos. O ideal mesmo seria simplesmente criar uma cláusula de desempenho eleitoral de no mínimo 10%, ou mesmo os 5% já defendidos anteriormente até pelo TSE. Isso resultaria em apenas 3 ou 4 partidos no Congresso e os demais seriam forçados à atuações locais e regionais. E fortaleceria muito a democracia popular, pois a mais efetiva ainda é a democracia dos poucos, na luta pelo Poder, comprovando-se cada vez mais, a necessidade de uma refundação estrutural do País todo. Enquanto isso, o Povo luta por uma vida melhor, com mais saúde, educação, segurança... 

Artigo publicado originalmente na Gazeta do Povo em 11/02/15
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1532143&tit=Legislativo-federal-%96-reconquistando-o-poder?