quarta-feira, maio 03, 2017

DEUS ESTÁ OU NÃO ESTÁ MORTO?

Filme que está na classificação “alta” do Netflix, partes 1 e 2 – “Deus Não Está Morto” – é interessante pela discussão filosófica que provoca sobre sua existência, mas é claro, o foco foi mesmo em uma aparente perseguição religiosa que estaria ocorrendo nos EUA, justamente um país que tem cristãos como pais fundadores.

Ao final do filme, na lista dos créditos, há uma impressionante lista de casos judiciais que debatem o direito de expressão religiosa em escolas, o que nos leva a pensar em como realmente se fazer a divisão entre Estado e Igreja, sem criar antagonismos. É assunto que pode gerar livros e mais livros, tantos quantos os que já existem para discutir a existência ou não de um Ser Supremo. O que quero mesmo é fazer uma rápida crítica do que vi nas duas partes desta série, que, ao que parece, pretende ser produzida homeopaticamente.

As estórias são interessantes. Boas, eu diria. Na primeira parte, a discussão do garoto cristão com o professor materialista resultou no convencimento de toda a classe da existência divina, deixando furioso o mestre que tinha se tornado ateu por ódio a Deus. Sim, ódio a quem não acreditava existir. Este foi o argumento capturado pelo garoto, ao saber do ponto fraco, das razões que levaram o educador a professar pelo ateísmo. Mas a conclusão que o aluno apresenta é criacionista, e se contrapõe aos ditames da ciência e das provas evolucionistas. A evolução animal – racional e irracional – não se contrapõe à existência de um Ser Supremo. Logo, não entendo que o argumento dos diretores, na busca de promover o movimento na defesa do direito à religião, tenha se encaminhado a uma conclusão orientada para apenas uma vertente do cristianismo.

Já na segunda parte, o caso de uma professora que apenas respondeu à uma pergunta de uma aluna, com viés histórico, as comparações de discursos e atitudes de Martin Luther King e Ghandi com Cristo, processada por apologia religiosa em sala de aula. Professores não podem nem mesmo, em modo particular, expressar seus pontos de vista. Uma caracterização de perseguição religiosa, sem dúvida. A disputa no tribunal foi interessante, digna dos grandes debates entre causídicos. Eu, como roteirista, talvez colocaria até o juiz da corte em enrascada, diante do advogado de defesa da professora, considerando que a Bíblia faz parte da mesa e que a maioria das testemunhas juram sobre a mesma. Detalhe esquecido e que se tornou contraditório em um caso sobre tal tema. Mas, enquanto a disputa se desenrolava dentro do tribunal, os protestos contra e a favor se pautavam por um objetivo equivocado: aderir ou não à crença em Deus. Não fica difícil em ver como a inclinação dos diretores se aproxima do fanatismo. Uma pena. O argumento – perseguição religiosa ou luta pelo laicismo – é bastante válido e daria historias muito mais profundas.

Afirmo isto, porque o que deveria estar em questão não era a existência de Deus, mas o direito de se acreditar em Deus ou não e de como isso deve ser tratado na escola, nas universidades. Algo que me lembra a luta do Escola Sem Partido no Brasil. Qual o papel da escola? Qual o papel do professor? Deve o professor abrir mão de suas convicções religiosas em sala de aula? Onde está a linha divisória entre a opinião e a pregação? Talvez algo que se resolva com informação, com aulas neutras sobre religiões e ideologias. Sem inclinações. Apenas puras. Mas completas em suas informações, tanto com seus aspectos positivos, suas promessas e eventuais sucessos, quanto seus fracassos e insucessos. E até as tragédias vinculadas, seja às religiões, seja às ideologias. Mas com visão científica, fria e pura. E deixar que cada qual defina seu caminho. Isso é liberdade. Isso é formação de senso crítico.


Finalmente, um dos fatores que mais me chamou a atenção nas atitudes de ambos os protagonistas – o aluno na primeira parte e a professora, na segunda – deveria ser a integridade de caráter e não a crença inabalável no Ser Supremo. Eles não se venderam às facilidades, da oportunidade de se livrar dos problemas decorrentes para poderem tocar as respectivas vidas normalmente. Não se venderam. Não se curvaram. É isso que, para mim, tem o maior valor de todas as duas estórias, a integridade a qualquer custo! Certamente para Deus também. DEUS ESTÁ OU NÃO ESTÁ MORTO?