Filme que está na classificação “alta” do Netflix, partes
1 e 2 – “Deus Não Está Morto” – é interessante pela discussão filosófica que
provoca sobre sua existência, mas é claro, o foco foi mesmo em uma aparente
perseguição religiosa que estaria ocorrendo nos EUA, justamente um país que tem
cristãos como pais fundadores.
Ao final do filme, na lista dos créditos, há uma
impressionante lista de casos judiciais que debatem o direito de expressão
religiosa em escolas, o que nos leva a pensar em como realmente se fazer a
divisão entre Estado e Igreja, sem criar antagonismos. É assunto que pode gerar
livros e mais livros, tantos quantos os que já existem para discutir a
existência ou não de um Ser Supremo. O que quero mesmo é fazer uma rápida
crítica do que vi nas duas partes desta série, que, ao que parece, pretende ser
produzida homeopaticamente.
As estórias são interessantes. Boas, eu diria. Na
primeira parte, a discussão do garoto cristão com o professor materialista resultou
no convencimento de toda a classe da existência divina, deixando furioso o mestre
que tinha se tornado ateu por ódio a Deus. Sim, ódio a quem não acreditava
existir. Este foi o argumento capturado pelo garoto, ao saber do ponto fraco,
das razões que levaram o educador a professar pelo ateísmo. Mas a conclusão que
o aluno apresenta é criacionista, e se contrapõe aos ditames da ciência e das
provas evolucionistas. A evolução animal – racional e irracional – não se
contrapõe à existência de um Ser Supremo. Logo, não entendo que o argumento dos
diretores, na busca de promover o movimento na defesa do direito à religião,
tenha se encaminhado a uma conclusão orientada para apenas uma vertente do
cristianismo.
Já na segunda parte, o caso de uma professora que apenas
respondeu à uma pergunta de uma aluna, com viés histórico, as comparações de
discursos e atitudes de Martin Luther King e Ghandi com Cristo, processada por
apologia religiosa em sala de aula. Professores não podem nem mesmo, em modo
particular, expressar seus pontos de vista. Uma caracterização de perseguição
religiosa, sem dúvida. A disputa no tribunal foi interessante, digna dos
grandes debates entre causídicos. Eu, como roteirista, talvez colocaria até o
juiz da corte em enrascada, diante do advogado de defesa da professora,
considerando que a Bíblia faz parte da mesa e que a maioria das testemunhas
juram sobre a mesma. Detalhe esquecido e que se tornou contraditório em um caso
sobre tal tema. Mas, enquanto a disputa se desenrolava dentro do tribunal, os
protestos contra e a favor se pautavam por um objetivo equivocado: aderir ou
não à crença em Deus. Não fica difícil em ver como a inclinação dos diretores
se aproxima do fanatismo. Uma pena. O argumento – perseguição religiosa ou luta
pelo laicismo – é bastante válido e daria historias muito mais profundas.
Afirmo isto, porque o que deveria estar em questão não
era a existência de Deus, mas o direito de se acreditar em Deus ou não e de
como isso deve ser tratado na escola, nas universidades. Algo que me lembra a
luta do Escola Sem Partido no Brasil. Qual o papel da escola? Qual o papel do
professor? Deve o professor abrir mão de suas convicções religiosas em sala de
aula? Onde está a linha divisória entre a opinião e a pregação? Talvez algo que
se resolva com informação, com aulas neutras sobre religiões e ideologias. Sem
inclinações. Apenas puras. Mas completas em suas informações, tanto com seus
aspectos positivos, suas promessas e eventuais sucessos, quanto seus fracassos
e insucessos. E até as tragédias vinculadas, seja às religiões, seja às
ideologias. Mas com visão científica, fria e pura. E deixar que cada qual
defina seu caminho. Isso é liberdade. Isso é formação de senso crítico.
Finalmente, um dos fatores que mais me chamou a atenção
nas atitudes de ambos os protagonistas – o aluno na primeira parte e a
professora, na segunda – deveria ser a integridade de caráter e não a crença
inabalável no Ser Supremo. Eles não se venderam às facilidades, da oportunidade
de se livrar dos problemas decorrentes para poderem tocar as respectivas vidas
normalmente. Não se venderam. Não se curvaram. É isso que, para mim, tem o
maior valor de todas as duas estórias, a integridade a qualquer custo!
Certamente para Deus também. DEUS ESTÁ OU NÃO ESTÁ MORTO?