quinta-feira, agosto 15, 2013

Urbanidade virtual - cada vez mais, grandes vazios humanos...

Já muito se escreveu sobre etiqueta virtual, ou seja, a educação no trato com troca de mensagens via internet e redes sociais. Os conteúdos do que li até agora tem mais a ver sobre o como fazer, e disso que tive acesso nenhuma referencia sobre o comportamento das pessoas.

Mas a pergunta que surge – ou não quer se calar – é: o que está acontecendo com as pessoas?

É verdade que a troca de mensagens escritas jamais vai substituir o contato humano direto, via telefone e, muito mais ainda, pessoalmente. Já se sabe que mensagens podem ser interpretadas quanto ao “tom” por diversas formas, dependendo do assunto que se discute em uma lista ou rede social, por exemplo, e também do humor do receptor. Você escreve uma resposta que é interpretada com outro tom pelo interlocutor, que então responde com rispidez e aí... a encrenca está pronta.

Creio que todos já viram discussões virtuais por escrito com troca de insultos que jamais ocorreriam se o debate fosse pessoal, face to face. Os corajosos e/ou brutamontes atrás do teclado certamente não agiriam de forma tão antissocial pessoalmente...

Mas o escopo dessa reflexão está mais para o vazio. A falta da manifestação, da educada manifestação, da resposta, de um muito obrigado, ou de um “ok, recebido, de um "grato”. Tenho comércio eletrônico e por vezes recebo consultas sobre aparelhos e preços, respondo com formalidade e conteúdo esperado pelo interessado e... nem um muito obrigado, mesmo que não compre agora não tenha gostado, ou ainda estou em dúvida, ou não é bem o que queria... ou simplesmente um, “obrigado, oportunamente voltarei ao assunto”. Se eu solicito um orçamento e a pessoa responde com a esperança de vender, respondo agradecendo, mesmo que eu já tenha decidido por outra opção. 

Você envia algo solicitado, um documento, um artigo, uma mensagem antiga, ima informação e... nada! Nem um “valeu!”.

E quando a gente recebe uma mensagem cheia de erros de português, de ortografia, de digitação, sem nenhum encaminhamento, sequer um “prezados senhores”? O que você imagina a respeito de quem a enviou? No mínimo um ogro, ou uma ogra...

Será que as pessoas agiriam assim pessoalmente quando entram em uma loja fisicamente? Ao ser abordado por um(a) vendedor(a)? Certamente que não! Dirão “só estou olhando, obrigado”. Ou, ao sair da loja depois de ser atendido com as informações solicitadas a tal pessoa, certamente um “muito obrigado, até logo, coisas assim”.

Será que as pessoas que agem de forma fria, vazia, nas trocas de mensagens virtuais acham que não existe outra pessoa atrás da mensagem enviada ou recebida? Será que pensam que é um robô que está interagindo? Uma pessoa que vai perturbar com e-mails e spams caso tenha sido demonstrada educação no trato? Não sei.

Mas sei que mesmo que se vejam e se respondam dezenas de e-mails por dia, mensagens trocadas nas redes sociais, o vazio interlocutório humano, apenas humano, parece aumentar. Um conjunto de incoerências com as mesmas pessoas que vivem enviando imagens de bichos bonitinhos, flores, mensagens de motivação, religiosas... isso é patologia? Ou um progressivo desvio de comportamento forçado pela pressa digital, pelo esfriamento social pela frieza da letra escrita em um papel virtual?

Dá trabalho? Sim, mas é infinitamente pouco na construção da sua imagem não apenas diante dos outros, mas diante de si mesmo. O silêncio só vale em raras situações nas quais esta atitude funciona melhor do que responder. E não é difícil saber quando isso deve ocorrer. 

Bem, estou certo de que especialistas de comportamento virtual, psicólogos, psiquiatras, sociólogos, dentre outros profissionais “das humanas”, têm muitas respostas. Mas, se você que me lê agora, perceber que sem querer, sem perceber, entrou nessa onda desumana, pense em reverter isso. Afinal, não é só uma questão de etiqueta, mas de como todos nós somos imaginados por quem lê nossas mensagens, mesmo com um simples “ok”. Embora a recomendação cristã de não julgar, inevitavelmente somos julgados sim, e, como diz um ditado, “a diferença está nos detalhes”.