Já muito se escreveu sobre
etiqueta virtual, ou seja, a educação no trato com troca de mensagens via internet
e redes sociais. Os conteúdos do que li até agora tem mais a ver sobre o como
fazer, e disso que tive acesso nenhuma referencia sobre o comportamento das
pessoas.
Mas a pergunta que surge – ou não
quer se calar – é: o que está acontecendo com as pessoas?
É verdade que a troca de
mensagens escritas jamais vai substituir o contato humano direto, via telefone
e, muito mais ainda, pessoalmente. Já se sabe que mensagens podem ser
interpretadas quanto ao “tom” por diversas formas, dependendo do assunto que se
discute em uma lista ou rede social, por exemplo, e também do humor do receptor.
Você escreve uma resposta que é interpretada com outro tom pelo interlocutor,
que então responde com rispidez e aí... a encrenca está pronta.
Creio que todos já viram
discussões virtuais por escrito com troca de insultos que jamais ocorreriam se
o debate fosse pessoal, face to face.
Os corajosos e/ou brutamontes atrás do teclado certamente não agiriam de forma
tão antissocial pessoalmente...
Mas o escopo dessa reflexão
está mais para o vazio. A falta da manifestação, da educada manifestação, da resposta, de um muito obrigado, ou de um “ok, recebido, de um "grato”. Tenho comércio eletrônico e por
vezes recebo consultas sobre aparelhos e preços, respondo com formalidade e
conteúdo esperado pelo interessado e... nem um muito obrigado, mesmo que não
compre agora não tenha gostado, ou ainda estou em dúvida, ou não é bem o que queria...
ou simplesmente um, “obrigado, oportunamente voltarei ao assunto”. Se eu solicito um orçamento e a pessoa responde com a esperança de vender, respondo agradecendo, mesmo que eu já tenha decidido por outra opção.
Você envia algo solicitado,
um documento, um artigo, uma mensagem antiga, ima informação e... nada! Nem um “valeu!”.
E quando a gente recebe uma
mensagem cheia de erros de português, de ortografia, de digitação, sem nenhum
encaminhamento, sequer um “prezados senhores”? O que você imagina a respeito de
quem a enviou? No mínimo um ogro, ou uma ogra...
Será que as pessoas agiriam
assim pessoalmente quando entram em uma loja fisicamente? Ao ser abordado por
um(a) vendedor(a)? Certamente que não! Dirão “só estou olhando, obrigado”. Ou,
ao sair da loja depois de ser atendido com as informações solicitadas a tal
pessoa, certamente um “muito obrigado, até logo, coisas assim”.
Será que as pessoas que agem
de forma fria, vazia, nas trocas de mensagens virtuais acham que não existe outra
pessoa atrás da mensagem enviada ou recebida? Será que pensam que é um robô que
está interagindo? Uma pessoa que vai perturbar com e-mails e spams caso tenha
sido demonstrada educação no trato? Não sei.
Mas sei que mesmo que se
vejam e se respondam dezenas de e-mails por dia, mensagens trocadas nas redes
sociais, o vazio interlocutório humano, apenas humano, parece aumentar. Um
conjunto de incoerências com as mesmas pessoas que vivem enviando imagens de
bichos bonitinhos, flores, mensagens de motivação, religiosas... isso é patologia?
Ou um progressivo desvio de comportamento forçado pela pressa digital, pelo
esfriamento social pela frieza da letra escrita em um papel virtual?
Dá trabalho? Sim, mas é infinitamente pouco na construção da sua imagem não apenas diante dos outros, mas diante de si mesmo. O silêncio só vale em raras situações nas quais esta atitude funciona melhor do que responder. E não é difícil saber quando isso deve ocorrer.
Bem, estou certo de que
especialistas de comportamento virtual, psicólogos, psiquiatras, sociólogos,
dentre outros profissionais “das humanas”, têm muitas respostas. Mas, se você
que me lê agora, perceber que sem querer, sem perceber, entrou nessa onda
desumana, pense em reverter isso. Afinal, não é só uma questão de etiqueta, mas de como
todos nós somos imaginados por quem lê nossas mensagens, mesmo com um simples “ok”.
Embora a recomendação cristã de não julgar, inevitavelmente somos julgados sim,
e, como diz um ditado, “a diferença está nos detalhes”.